Economia além da bola
Antonio Salles Júnior

O futebol brasileiro não é apenas uma paixão. O esporte mais praticado no país, além de fomentar calendários, jogos e campeonatos também influencia a dinâmica da economia e gera renda para trabalhadores desempregados. Apesar da decadência do futebol baiano nos últimos anos, com o declínio no cenário esportivo nacional, os times do Bahia e do Vitória contribuem diretamente para o desenvolvimento de um setor da economia: o comércio informal.

Segundo dados da Superintendênci de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia

(SEI), a região metropolitana de Salvador possui taxa de desemprego de 21,5% da população economicamente ativa, o pior índice do país. Diante desta realidade, desempregados encontram no calendário esportivo dos clubes baianos uma oportunidade para complementar a renda familiar. O ambulante Ailton Domingues, 25 anos, vende camisas durante os jogos da dupla Ba-Vi e afirma que, se trabalhar em todos os jogos, consegue uma renda entre R$ 800 e R$ 1000 por mês. Mas, Domingues é uma exceção. A maioria dos vendedores enfrenta dificuldades. Durante o campeonato, os ambulantes precisam chegar com bastante antecedência aos locais dos jogos, como relata o vendedor Anelito dos Santos, 49 anos: “Tem que chegar, no mínimo, uma hora antes dos jogos, senão eu perco o Economia além da bola Antonio Salles Júnior ponto de venda pra outro”. Todo esse esforço para garantir uma renda mensal média de um salário mínimo.

Como a temporada esportiva não abrange todos os dias do ano, os vendedores ambulantes ainda enfrentam a sazonalidade dos jogos e as irregularidades dos times. Quando as equipes atuam fora de casa, o comércio informal busca alternativas. Jorge Silva, 38 anos, conta como dribla essa dificuldade: “se os times não jogam, eu faço bico, às vezes trabalho como office boy”. E emenda: “tenho esposa e duas filhas para sustentar, não posso ficar parado”. Alguns ambulantes intercalam os jogos, as festas no interior do Estado e eventos musicais na cidade, mas todos são unânimes quanto aos lucros durante a temporada: quando Bahia e Vitória enfrentam crises ou não há jogos na capital, a renda familiar sofre reduções drásticas. O comerciante Gilberto Brito, 51 anos, trabalha há muitos anos nos arredores da Fonte Nova é um exemplo disso: “tenho quatro filhos desempregados. Vender churrasco aqui é uma aventura “.

Além de conviver com o rodízio dos jogos – dentro ou fora de casa - e o humor da torcida , há ainda a concorrência nas vendas. Quando as tabelas da séries B e C coincidem eles apostam na criatividade. Alguns optam por dividir os produtos e trabalhar em dois pontos diferentes quando a dupla Ba-Vi atua num mesmo dia. Outros, ainda preferem definir um ponto de venda e apostar na fidelidade da freguesia ou no grito: “olha a cerveja, geladinha...”, como os vendedores Carlos Alberto e Flávio Chagas, que usam o próprio carro para transportar e vender cerveja.

Ordenamento nos Estádios
Apesar do comércio informal nos estádios de futebol ser uma prática antiga, os órgãos públicos não possuem dados ou pesquisas sobre os números que envolvem esta atividade. A Secretaria de Serviços Públicos (SESP) não dispõe de um projeto de planejamento definido para o ordenamento dos ambulantes. Segundo a Chefe do Setor de Fiscalização, Iara Cerqueira, o trabalho realizado pelos fiscais limita-se a “retirar vendedores ambulantes das áreas de fluxo, evitar riscos aos torcedores e garantir acesso livre aos portões de entrada”. Mesmo assim, ainda é comum encontrar vendedores alocados sobre áreas de passeio público ou próximas às bilheterias.

O Chefe de Operações da Superintendência de Desportos da Bahia (SUDESB), Nilo dos Santos, afirma ter o cadastro dos vendedores ambulantes e cantineiros que atuam dentro do Estádio Octávio Mangabeira. Mas reconhece “não ter qualquer estrutura de ordenamento do estacionamento, devido à grande quantidade de vendedores e consumidores e às vias laterais da Ladeira da Fonte das Pedras”. Quanto ao Estádio Manoel Barradas, o administrador Haroldo Tavares afirma “ter planos para ordenar a área externa no futuro, e delimitar pontos de vendas específicos para os vendedores”. Inicialmente, a proposta deve contemplar apenas a área interna do Barradão, com espaços exclusivos para vendedores de produtos diversos. Porém, o administrador do estádio já comemora o fato de conseguir ampliar a fiscalização com o auxílio da SESP e afastar as barracas das bilheterias e dos portões de entrada.